Music of the Spheres, de Johanna Beyer: pioneirismo e resistência
- Maria Argandoña Tanganelli

- 24 de set.
- 2 min de leitura
Pouca gente sabe, mas uma das primeiras composições para som eletrônico da história da música ocidental foi escrita por uma mulher.

Em 1938, Johanna Beyer, compositora alemã radicada nos Estados Unidos, concebeu Music of the Spheres. A peça foi pensada como preludio da ópera política inacabada chamada Status Quo.
Vale ressaltar que a peça não foi realizada em sua época, mas seu conceito já antecipava experimentações que só viriam a ganhar força anos depois.
Embora os recursos musicais empregados nesta obra sejam aparentemente mínimos, a análise de seus projetos composicionais revela que estão longe de serem simplistas. Até porque se formos refletir, naquele período apenas existiam ondas senoidais simples criadas por osciladores de rádio ou um theremin que pudessem tocar o contraponto escrito, o que inclusive justificaria a escrita mínima das linhas.
Atenta-se que o discurso de música simples sempre foi usado de forma velada, mas altamente preconceituosa contra mulheres compositoras, como se suas ideias fossem menores diante das produções mais reconhecidas de homens da mesma época. Tanto que, por muito tempo ao estudarmos música eletroacústica a primeira referência que nos é dada é da música concreta, que apenas surgiu em 1948. Porém, nos anos 1930–40, o acesso aos estúdios era extremamente restrito, e mulheres não eram admitidas. Johanna Beyer, por exemplo, nunca teve acesso a um studio - embora escrevesse para instrumentos eletrônicos -, as mulheres só começariam a ser admitidas em studios cerca de 30 anos depois.
A obra de Beyer mostra justamente que mesmo sem as condições e as vantagens dos acadêmicos da época, ela ousou imaginar e escrever sons eletrônicos quando quase ninguém fazia isso. O fato de que sua peça se antecipa em dez anos à música concreta coloca em evidência não apenas sua visão artística, mas também o silenciamento histórico das mulheres na música experimental.
O triste é que ainda hoje, as mulheres seguem sendo minoria em estúdios, centros de pesquisa e criação tecnológica musical. Revisitar Johanna Beyer é lembrar que esse pioneirismo existiu, mas foi apagado — e reconhecer sua importância é um passo para transformar o presente.




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