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Queimada: Meu Processo Criativo na Minha Primeira Peça Acusmática


Em 2022, as queimadas no Brasil chamaram minha atenção não apenas pela dimensão ambiental, mas também pelas questões políticas e sociais que as envolvem, muitas delas de forma propositada pelo homem. Essas imagens e impactos inspiraram minha primeira peça acusmática, intitulada “Queimada”, um trabalho que conecta som, memória e reflexão crítica sobre nosso papel no mundo.


O projeto começou no PANamora, onde iniciei a composição com orientação do meu professor. Ele foi solícito e generoso com suas sugestões, e essa etapa inicial me permitiu estruturar as primeiras ideias sonoras e a estética da peça. No entanto, circunstâncias não ligadas ao processo criativo levaram a uma intriga, do qual eu não estava burocraticamente correta e nesse mesmo ano fui internada, ocasionando o trancamento da disciplina. Infelizmente, no ano seguinte não me foi permitido matricular novamente no estúdio, o que interrompeu o acesso aos recursos e à continuidade da orientação.


Durante minha experiência no mundo eletroacústico, notei como fui tratada de forma similar a um homem, sendo esperado que atuasse e reagisse como se não houvesse diferença de experiências entre gêneros. Para afirmar meu posicionamento e lidar com essa dinâmica, coloquei na descrição da peça “Composed at home free from male noises”, uma forma de refletir artisticamente sobre a minha vivência como mulher em um espaço majoritariamente masculino. Essa decisão evidenciou para mim as problemáticas de ser uma minoria em contextos profissionais e criativos, e como isso influencia o processo de criação e o próprio acesso às oportunidades.


Apesar desses desafios, não abandonei a peça. Guardei o material inicial e, após algum tempo, retomei a composição em casa, reconfigurando os sons e dando forma à narrativa acusmática de Queimada. Esse processo me ensinou muito sobre autonomia, resiliência e adaptação, mostrando que, mesmo diante de dificuldades externas e dinâmicas de poder, é possível reconstruir um projeto criativo e manter viva a visão artística.


Hoje, Queimada reflete não apenas minha exploração sonora, mas também meu engajamento com questões contemporâneas urgentes, incluindo gênero, representação e responsabilidade social. A peça é um registro sensível do impacto humano sobre a natureza e um convite ao ouvinte para refletir sobre a relação entre ação, consequência e posicionamento individual dentro de sistemas maiores.

 
 
 

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